Desde a vitória de Lula em 2002 se instaurou no Brasil um ciclo de possibilidades de sentido histórico, trazendo em seu bojo conquistas que se acumulam nas esferas econômica, social e política. Ambiente por si mesmo favorecedor de grandes atitudes em favor de um projeto de desenvolvimento capaz de abrir caminho, estrategicamente, a um novo salto civilizatório.
Certo ou errado? A despeito dos contratempos que têm marcado a cena política desde então, em sacrifício do que se passou a caracterizar “espírito republicano”, a afirmação está correta. Nem precisa anotar aqui as inúmeras conquistadas obtidas.
Mas cabe assinalar o despreparo de parte importante das forças políticas para se colocarem à altura do ciclo histórico. Na atualidade, evidente nas duas correntes hegemônicas no governo – o PT e o PMDB.
É o que vimos durante o deplorável episódio protagonizado pelo ex-ministro Palocci, cuja natureza em nada contribui para engrandecer a figura do então chefe da Casa Civil. Uma vez confirmada a pretensão da presidenta Dilma de substitui-lo, petistas nas esferas internas e no âmbito do parlamento foram à batalha intestina na ânsia de tirar proveito da crise, sem nenhum receio do desgaste público. Do “líder” Vacarezza – exemplo de primarismo e inabilidade – ao presidente da Câmara, esgrimiram argumentos no mínimo intrigantes na busca da ocupação da coordenação política do governo, tais como a necessidade da bancada federal se sentir melhor representada (sic).
O PMDB, por seu turno, organização centrista não necessariamente pelo ideário que defende, e sim pela capacidade de ser governo em qualquer circunstância, foi à luta com o mesmo denodo. O líder Renan Calheiros, por exemplo, punha a necessidade de um peemedebista no Planalto como meio de “aprimorar” a articulação política da presidenta.
A rigor, o PT tem a presidente e o PMDB, o vice-presidente. Fora que petistas empolgam a grande maioria dos ministérios e o PMDB controla uns tantos dentre os considerados mais importantes. Mas o apetite de ambos não tem limites. Daí parecem agir segundo a máxima de que “tudo vale a pena para tornar a política pequena”. Ou seja, nada de discutir a melhoria da capacidade do governo concretizar seus compromissos programáticos, e sim a ampliação de espaços de poder sabe-se muito bem em razão de interesses imediatos dos pequenos grupos de que são formados os dois partidos.
Mas isso é próprio de todo partido político, a conquista de poder – justificava, no auge da crise, um experiente deputado amigo. O que não deixa de ser verdade – e neste caso, o “poder” é este já alcançado. O teto foi atingido, já que não se persegue objetivos estratégicos de maior envergadura, o que apequenina a visão da política e põe a República sob risco constante de novas crises de tipo palocciano. E, de outra parte, estimula a visão crítica e a capacidade de ação dos que pretendem um novo projeto nacional de desenvolvimento, apto a gerar condições para transformações profundas na sociedade brasileira – no rumo do socialismo.
Luciano Siqueira
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