O PSOL divulgou nesta sexta-feira sua posição no segundo turno, deixando a seus militantes a opção entre o voto nulo e o voto “crítico” em Dilma Rousseff, candidata do PT. Segundo resolução da executiva nacional do partido, a decisão é pela “oposição frontal” ao candidato tucano, com o dizer: “Nenhum voto em Serra”.
Após uma reunião que durou aproximadamente quatro horas, membros da Executiva Nacional explicaram em entrevista coletiva em São Paulo que o posicionamento do partido foi resultado de "convergência de posições".
Ainda assim, de acordo com a resolução, o PSOL se propõe a, independete de quem vença a eleição, ser “oposição de esquerda e programática”. Segundo o partido, nem Serra nem Dilma mostraram compromisso com pontos programáticos considerados fundamentais para o PSOL, como a redução da jornada de trabalho e a mudança da política econômica.
Na avaliação dos socialistas, um eventual governo Serra representaria um retrocesso a “uma ofensiva neoliberal, de direita e conservadora no País”. O secretário-geral do PSOL, Afranio Boppré, ressaltou que, se depender da posição do partido, nenhum voto dos simpatizantes será destinado ao candidato José Serra. "É uma decisão em função da ofensiva neoliberal do campo político que representa Serra não só a sua figura individualmente, mas é um campo político conservador que está disposto a assumir a presidência do Brasil para retomar uma ofensiva neoliberal à qual o PSOL tem um posicionamento profundamente contrário", disse.
No Rio de Janeiro, onde o PSOL colheu seus melhores resultados eleitorais, a bancada fluminense do partido - representada por Jefferson Moura, Milton Temer, Chico Alencar, Jean Wyllys e Marcelo Freixo - decidiu recomendar aos seus militantes o chamado "voto crítico" em Dilma Rousseff. Os membros da legenda entendem que, entre os dois projetos em disputa no segundo turno, o petista será melhor para o país.
Já Plínio de Arruda Sampaio, candidato do PSOL à Presidência, que alcançou 886.816 votos no primeiro turno, declarou que vai votar nulo no segundo turno. Em manifesto divulgado no site “Terra Magazine”, Plínio critica a posição de Serra na política econômica e na política externa. Quanto a Dilma, o socialista afirma que ela é uma “incógnita”, mas que se mantiver a política de Lula, vai continuar a cooptar os movimentos sociais.
Veja, abaixo, a íntegra da resolução do PSOL:
"Nenhum voto a Serra"
O Partido Socialismo e Liberdade (PSOL) mereceu a confiança de mais de um milhão de brasileiros que votaram nas eleições de 2010. Nossa aguerrida militância foi decisiva ao defender nossas propostas para o país e sobre ela assentou-se um vitorioso resultado.
Nos sentimos honrados por termos tido Plínio de Arruda Sampaio e Hamilton Assis como candidatos à presidência da República e a vice, que de forma digna foram porta vozes de nosso projeto de transformações sociais para o Brasil. Comemoramos a eleição de três deputados federais (Ivan Valente/SP, Chico Alencar/RJ e Jean Wyllys/RJ), quatro deputados estaduais (Marcelo Freixo/RJ, Janira Rocha/RJ, Carlos Giannazi/SP e Edmilson Rodrigues/PA) e dois senadores (Randolfe Rodrigues/AP e Marinor Brito/PA). Lamentamos a não eleição de Heloísa Helena para o Senado em Alagoas e a não reeleição de nossa deputada federal Luciana Genro no Rio Grande do Sul, bem como do companheiro Raul Marcelo, atual deputado estadual do PSOL em São Paulo.
Em 2010 quis o povo novamente um segundo turno entre PSDB e PT. Nossa posição de independência não apoiando nenhuma das duas candidaturas está fundamentada no fato de que não há por parte destas nenhum compromisso com pontos programáticos defendidos pelo PSOL. Sendo assim, independentemente de quem seja o próximo governo, seremos oposição de esquerda e programática, defendendo a seguinte agenda: auditoria da dívida pública, mudança da política econômica, prioridade para saúde e educação, redução da jornada de trabalho para 40 horas semanais, defesa do meio ambiente, contra a revisão do código florestal, defesa dos direitos humanos segundo os pressupostos do PNDH3, reforma agrária e urbana ecológica e ampla reforma política – fim do financiamento privado e em favor do financiamento público exclusivo, como forma de combater a corrupção na política.
No entanto, o PSOL se preocupa com a crescente pauta conservadora introduzida pela aliança PSDB-DEM, querendo reduzir o debate a temas religiosos e falsos moralismos, bloqueando assim os grandes temas de interesse do país. Por outro lado, esta pauta leva a candidatura de Dilma a assumir posição ainda mais conservadora, abrindo mão de pontos progressivos de seu programa de governo e reagindo dentro do campo de idéias conservadoras e não contra ele. Para o PSOL, a única forma de combatermos o retrocesso é nos mantermos firmes na defesa de bandeiras que elevem a consciência de nosso povo e o nível do debate político na sociedade brasileira.
As eleições de 2002, ao conferir vitória a Lula, traziam nas urnas um recado do povo em favor de mudanças profundas. Hoje é sabido que Lula não o honrou, não cumpriu suas promessas de campanha e governou para os banqueiros, em aliança com oligarquias reacionárias como Sarney, Collor e Renan Calheiros. Mas aquele sentimento popular por mudanças de 2002 era também o de rejeição às políticas neoliberais com suas conseqüentes privatizações, criminalização dos movimentos sociais – que continuou no governo Lula -, revogação de direitos trabalhistas e sociais.
Por isso, o PSOL reafirma seu compromisso com as reivindicações dos movimentos sociais e as necessidades do povo brasileiro. Somos um partido independente e faremos oposição programática a quem quer que vença. Neste segundo turno, mantemos firme a oposição frontal à candidatura Serra, declarando unitariamente “nenhum voto em Serra”, por considerarmos que ele representa o retrocesso a uma ofensiva neoliberal, de direita e conservadora no País.
Ao mesmo tempo, não aderimos à campanha Dilma, que se recusou sistematicamente ao longo do primeiro turno a assumir os compromissos com as bandeiras defendidas pela candidatura do PSOL e manteve compromissos com os banqueiros e as políticas neoliberais. Diante do voto e na atual conjuntura, duas posições são reconhecidas pela Executiva Nacional de nosso partido como opções legítimas existentes em nossa militância: voto crítico em Dilma e voto nulo/branco. O mais importante, portanto, é nos prepararmos para as lutas que virão no próximo período para defender os direitos dos trabalhadores e do povo oprimido do nosso País.
Executiva Nacional do PSOL – 15 de outubro de 2010.
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